Para ser sincera, eu sempre gostei da sensação de ter o poder. Guardar segredos, manipular pessoas, ter em minhas mãos a decisão de causar dor ou prazer no outro. Ao longo dos anos, adquiri o gosto pelo delicioso peso da responsabilidade que isso traz. Mas não foi sempre assim.
Começou aos cinco anos, quando vi num filme uma cena que me deixou curiosa. Em alguma Sessão da Tarde, depois da escola, lembro da cena exata em que uma garota chutou um homem bem no meio das pernas e ele se jogou no chão fazendo uma cara muito engraçada. Isso despertou em mim um desejo estranho. Parecia uma dor extrema, excruciante, algo pior do que eu poderia sentir. Minha mãe explicou que, nos rapazes, aquela era uma área muito sensível. E, como eu sempre fui muito empírica, soube que precisava testar para ter certeza.
Lá fui eu, na manhã seguinte, para a escola, com a nova informação poderosa em minhas mãos. O escolhido? André, o garoto mais bonito da turma, que nunca me deu bola. Minha cobaia perfeita. Na aula de educação física, eu fui até ele e perguntei se poderia testar uma coisa que vi na televisão. Ele perguntou “o que?” e meu joelho subiu antes mesmo que eu pudesse responder. Bem no meio das pernas, como no filme. E o que se seguiu foi a mais bela expressão de agonia e sofrimento que eu já havia visto. Meus olhos brilharam com o novo poder. Nada como sentir o sabor do sadismo pela primeira vez. “Doeu tanto assim?” eu perguntei, debochada. Ele fingiu postura, afinal, homem não pode chorar. Saí de perto, satisfeita.
Foi uma semana divertida. Fiz outras vítimas dentre os garotos que me irritavam. Até mesmo uma menina levou o golpe. Queria testar se doeria nela da mesma forma, e doeu, mas não teve tanta graça para mim. Eu gostava mesmo era de bater nos meninos. Aquele órgão tão sensível me intrigava. Até que o André, se sentindo devidamente injustiçado por ser o alvo mais frequente, me denunciou para a professora. Sua expressão confusa foi inesquecível. “Mas por que você chutou ele?” “Não sei, ele estava me irritando.” E eu realmente não sabia dizer ao certo. Eu só tinha cinco anos, como poderia compreender a complexidade do prazer em causar a dor? Também não sabia que existiam pessoas que sentem prazer em receber essa dor. Essa descoberta só veio bem mais tarde (antes tarde do que nunca, porém).
Gosto de lembrar dessa história e reconhecer o que sempre existiu em mim. Hoje, felizmente, tenho rapazes que me pedem, ou até imploram, para que eu os chute. Cada panela tem sua tampa, não é mesmo? Ainda bem.